O avanço do crime organizado na Bahia não aconteceu da noite para o dia. Especialistas que se debruçaram sobre o problema, apontam que tudo começou a piorar, quando as forças federais invadiram os morros cariocas, em junho de 2007.
Pressionados pelo cerco militar aos morros cariocas, muitos traficantes resolveram migrar para a capital baiana, onde as forças policiais ainda não tinham desenvolvido o traquejo necessário para o enfrentamento desse tipo de organização criminosa.
Para entendermos esse fato com clareza, temos que descrever antes, em que contexto ele ocorre. O Brasil é, além de consumidor de drogas produzidas em países como Bolívia, Colômbia e Venezuela, uma rota de exportação desses entorpecentes para a Europa e para a África.
Com a pressão da força policial no Rio de Janeiro, os operadores do tráfico calcularam que a Bahia, que tem um grande porto e o maior litoral do país, seria um ótimo ponto de escoamento desses produtos.
De lá pra cá, as grandes organizações criminosas do sudeste do país, como o Comando Vermelho e o PCC, desembarcaram em território baiano para ocupar espaços.
Em alguns casos foi necessário entrar em combate com os traficantes das pequenas organizações locais, em outros eles conseguiram fazer alianças com os líderes locais, formando o que poderíamos chamar de franquias do crime, onde as grandes facções nacionais conquistam a lealdade das lideranças locais, em troca de fornecimento de drogas no atacado e de armas pesadas.

Facções demarcam o território dominado
O resultado dessas movimentações, fez com que hoje a Bahia tenha representantes de mais de 20 das cerca de 80 facções criminosas organizadas que existem no país.
O número de homicídios no estado nos útimos seis anos, é disparado o maior do país. Segundo os dados do próprio Ministério da Justiça, o Brasil teve 35.722 assassinatos em 2024, quase 5.000 ocorreram na Bahia, ou seja, bem mais de 10% do total de assassinatos ocorridos no país.
A primeira explosão da criminalidade, aconteceu logo depois que Jaques Wagner, do PT, assumiu o governo em meados dos anos 2.000.
No primeiro mandato dele, a média de assassinatos no estado, que era de 3 mil por ano, passou para a casa dos 6 mil. Lembrando que este período coincide com o reforço do cerco aos traficantes no Rio de Janeiro, feito pelos homens comandados pelo então General Braga Netto.
Um fato estranho em relação a esse início da explosão da criminalidade, é que, no mesmo período, o estado reduziu muito o índice de desemprego, gerando mais de 600 mil postos de trabalho com carteira assinada. Isso indica que a criminalidade, como muitos defendem, não está associada diretamente aos índices sociais ruins, mas também a outros fatores de ausência do poder público.
De lá pra cá, a situação fugiu totalmente do controle. Cenas nunca antes imaginadas na Bahia, se tornaram o "novo normal". Conhecida pelas suas belas praias e pela culinária exótica, a terra da alegria e do carnaval, agora passou a ter cobrança de taxa de funcionamento de comércio por parte dos traficantes, toque de recolher em comunidades inteiras, barricadas de concreto para impedir o acesso da polícia e tiroteios com armas de grosso calíbre em plena luz do dia.
Em alguns bairros da cidade, próximos às comunidades dominadas pelo tráfico, já é comum que uma bala perdida entre pela janela do apartamento, em pleno momento do jantar da família.

Cenário de guerra nas ruas da Bahia
O crime organizado agora avança a passos largos para o interior do estado. Das 10 cidades mais violentas do país, 6 estão em território baiano. Pela ordem: Camaçari, Jequié, Simões Filho, Feira de Santana, Juazeiro e Eunápolis. Reparem que não há uma concentração do crime por área geográfica, mas ele ocupa pontos estratégicos de norte a sul do estado, numa típica operação de ocupação territorial.
Uma situação registrada no pequeno município de Terra Nova, perto da capital, revela o tamanho da encrenca em que os baianos estão metidos. Casas da cidade foram simplesmente tomadas pelos traficantes, que chegaram fortemente armados e botaram os legítimos donos dos imóveis pra correr. Esse fato revela, acima de tudo, a total impotência do poder público para garantir um mínimo de proteção aos cidadãos que deveria proteger.
De acordo com o especialista em segurança pública, Capitão Alden, que também é Deputado Federal-BA, a polícia sozinha não tem condições de combater uma criminalidade que atingiu essas proporções. Segundo ele, um dos fatores que mais contribuem para esses índices absurdos, é a falência do sistema judiciário:
- A justiça da Bahia está entre as mais lentas do país, e os criminosos sabem aproveitar essa fraqueza para concentrar suas operações aqui no estado.
Outro ponto destacado pelo parlamentar, é a falta de estrutura das forças policiais. A população da Bahia cresce em uma proporção muito maior do que a do número de agentes responsáveis pela segurança pública, que permanecem praticamente com o mesmo efetivo a mais de uma década.
- Pra vocês terem uma ideia da vulnerabilidade do nosso sistema de segurança, cerca de 200 municípios baianos, tem um efetivo de apenas 2 policiais. Essas cidade acabam sendo um paraíso para quem quer praticar crimes - revela Alden.
Já para o Capitão Rodrigo Pimentel, policial do Rio de Janeiro que inspirou a criação do personagem do Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, a Bahia só terá sossego, quando for realizada uma operação semelhante à que aconteceu em El Salvador, onde o presidente, Naybe Bukele, criou um presídio para quarenta mil criminosos, e implantou uma política policial de tolerância zero.
A luta dos baianos agora, é para que as facções não conquistem um território ainda maior. Vitória da Conquista, por exemplo, a terceira maior cidade do estado, é geralmente apontada como a cidade mais segura da Bahia, de acordo com diversos rankings e estudos. Essa segurança é atribuída a iniciativas como a Guarda Municipal, planos de segurança pública e investimentos em iluminação pública.