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Zema na Bahia - Namoro ou amizade?
Não existe espaço vazio no mundo da política. Quando alguém que deveria estar cuidando de algo se distrai, logo aparece outro para ocupar o lugar. Quando esse outro é melhor do que o original, a perda de espaço é inevitável.
Publicado em 17/05/2025 09:48 • Atualizado 18/05/2025 03:13
Política

Por Robson do Val

Quando o saudoso compositor brasileiro Ary Barroso visitou a Bahia pela primeira vez, lá pelos idos de 1940, ficou tão encantado, que resolveu batizá-la, em uma de suas composições, de Terra da Felicidade

A realidade nua e crua, é que essa época em que a Bahia proporcionava uma vida feliz para visitantes e nativos, já não faz o menor sentido.

No recém divulgado índice do Atlas da Violência, que mede a criminalidade de norte a sul da país, o estado ocupa, há nove anos, o posto mais alto em número de homicídios.

O leitor mais curioso, pode escolher qualquer um dos parâmetros utilizados para aferir o índice de desenvolvimento humano; pode inclusive escolher as estatísticas oficiais do próprio governo, que certamente encontrará a Bahia muito mal classificada, entre os cinco últimos lugares. 

Isso vale para educação, emprego, alfabetização, saneamento e outros tantos requisitos básicos que fazem com que uma sociedade tenha o status de civilização.

Só para se ter uma ideia do tamanho do desastre, a Bahia tem mais gente inscrita no Bolsa Família, do que trabalhadores registrados com emprego formal. Esse indicador, por sinal, que é lamentado pelos que ainda conservam a lucidez, é comemorado pelos governantes populistas, como uma "conquista na luta contra a fome e a miséria", numa total inversão de valores. 

Nós outros, que nascemos na Bahia e que estamos ligados a ela por um amor umbilical, assistimos impotentes à deterioração do nosso Estado, patrocinada por aquilo que o ex-presidente Jânio Quadros - que Deus o tenha - um dia chamou de "forças ocultas". 

Bairros inteiros da capital, e até algumas cidades do interior do estado, já estão dominados pelas organizações criminosas do narcotráfico; redutos onde as forças policiais não entram e onde a população trabalhadora é refém.

Nas escolas estaduais, foi estabelecido um sistema perverso de aprovação compulsória, onde a meritocracia foi atirada na lata do lixo, para camuflar o retumbante fracasso do sistema educacional, muito mais voltado para doutrinações ideológicas de uma militância ressentida, manipuladora e doentia, do que para a preparação de cidadãos para uma vida produtiva em sociedade. 

Até a música baiana, que já foi uma referência nacional, agoniza entubada na mesma UTI dos valores moribundos. Os velhos artistas das grandes composições, dos movimentos revolucionários, hoje aderiram ao surto coletivo, e se dedicam à defesa do sistema corrupto que oprime os cidadãos de bem, que, em contrapartida, os beneficia com liberações de verbas públicas generosas.

O carnaval tradicional está cada vez mais parecido com uma orgia em praça pública. A música que mais se ouve nas esquinas, é a dos batidões da turma das facções, marcando, pelo alcance do som macabro e decadente, os seus territórios onde impera a ilegalidade.

Mas, mesmo no meio da lama, brotam algumas flores. No sudoeste baiano, uma cidade com pouco menos de meio milhão de habitantes, resiste como um lírio em meio ao lamaçal. Em Vitória da Conquista - nome, por sinal, muito sugestivo - as mazelas baianas não encontram guarida.

Disputando palmo a palmo com Petrolina, o título de melhor cidade nordestina para se viver, Vitória da Conquista talvez seja o único município do estado inteiro, que ainda faz jus aos versos de Ary Barroso, quando cantou que a Bahia era a terra da felicidade.

As escolas de nível superior estão em toda parte; cursos de medicina, a cidade tem três. São duas universidades públicas e várias privadas.

O índice de emprego é compatível com o dos estados do sul do país. O número da violência, que é a maior vergonha da Bahia atualmente, é o menor de todos. 

A indústria, que já tem fábricas de expressão nacional, como a Teiú, de produtos de limpeza, e a Tia Sônia, de produtos naturais, só não é mais próspera por falta de apoio governamental em infraestrutura. 

A iniciativa privada, compensa com a sua força empreendedora e extrema criatividade, a ausência, por exemplo, de uma oferta de recursos hídricos compatível com as necessidades locais. 

Outro obstáculo que existe, mas que também não consegue barrar o desenvolvimento promovido pela brava população conquistense, é a inexpressividade de  boa parte de sua representação parlamentar, tanto na esfera estadual, quanto na federal.

Na conjunção política atual, deputados ligados ao governador do estado, que faz oposição à prefeita, estão mais preocupados em minar a gestão da adversária, do que em canalizar emendas parlamentares para o benefício do povo. Quando destinam algum recurso pra cidade, o fazem sob as trombetas de algum vereador alinhado e subserviente, que atribui todos os louros da destinação da verba ao seu lider e mentor. 

O poder executivo estadual age da mesma forma: quando uma obra é realizada na cidade pelo governo do estado, ele foca mais na propaganda para descolar a imagem da prefeitura do benefício concedido à população, do que no próprio prazo de conclusão da obra, que acaba sempre atrasando, gerando transtornos e desperdício. 

Foi assim, nesse vácuo de governança, que um mineiro nada bobo, que governa um estado que fica a pouco mais de 100 km de Vitória da Conquista, percebeu que havia um espaço vazio a ser ocupado.

Os mais antigos afirmam, que um governador da Bahia nunca pisou no gabinete da prefeitura de Vitória da Conquista. Mas nos útimos dias apareceu por lá, quase de surpresa, o governador da vizinha Minas Gerais. 

A visita de Romeu Zema, como não poderia deixar de ser, virou o assunto da cidade. Uns diziam que ele só veio porque já está em campanha para a presidência da República.

Outros que a prefeita quis provocar o governador da Bahia por causa da eterna displicência dele em relação às necessidades locais. Os mais imaginativos, chegaram a levantar a hipótese de que existe uma conspiração para separar um pedaço da Bahia, e torná-lo parte de Minas Gerais. Ah, se a Bahia soubesse o quanto perderia com isso! E se Minas soubesse o quanto ganharia!

Boatos e fantasias à parte, entre os que se sentiram traidos e os que foram prestigiados,  nem todos ficaram contentes.

Como diria Jorge Amado em sua linguagem rudemente popular, os cornos, os atravessados e os preteridos em toda história, são sempre os mais desatentos.

A Bahia, principal vítima dessa desatenção, que tem sido tão maltratada e desprezada nos últimos anos, agora tem um novo amante, ou, pelo menos, um novo pretentende.  Com bom mineiro que é,  ele se aproxima discretamente,  mas cheio de quintas intenções. 

No final das contas, todos entenderam o tamanho da importãncia que tem essa cidade, que fez com que o governante do estado que tem o maior número de municípios do país, deixasse de visitar um deles, para atravessar a divisa e experimentar o nosso tradicional café com biscoito avoador.   

 

 

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